Quanto vale uma amizade? Creio que dentre todos os tabus de
nossa sociedade este deva figurar pelo menos no Top 10. Afinal, como se podem
mensurar as noites em claro, os improvisos de comédia, o anormal esforço mental
em se tentar entender as complexas sinapses de outro ser humano? A primeira resposta
para tudo isso é o maior clichê dos comercias da Mastercard, não tem preço!
Pena que ao contrário deste texto nem tudo é tão preto no
branco, nossos sentimentos não têm moeda própria, mas cobram e são cobrados,
escutam, falam, gritam e no final se desgastam. Assim como um primeiro carro
pelo qual temos imenso apreço, passamos anos (ou mesmo décadas) lavando,
polindo, lubrificando e trocando peças desta nossa amizade. Mas o que não se
nota olhando de perto, é que a cada engrenagem reposta, aquele pedacinho de
veículo deixa de ser o que conhecemos de início, e depois de um tempo será impossível
ignorar o estranhamento, e o adeus se torna inevitável.
O grande erro desta dinâmica é um só, nos achando diferente
dos demais pensamos que podemos, a partir de nossas ações para com o outro,
aperfeiçoar aquilo que temos até chegar à perfeição, mas nessa jornada nos
esquecemos do fato de que cada ação tende a se ampliar exponencialmente sob
infinitas combinações, gerando em 100% das vezes resultados absurdamente
diferentes do esperado.
Prepotência, confiança ou simplesmente fé, são os motivos
que nos levam a criar tais expectativas surreais que no fundo sabemos que não
serão alcançadas.
Qual é então o valor de uma amizade? É exatamente o quanto
você está disposto a acreditar em si mesmo e nas coisas que pode realizar por
alguém. No final este investimento pode dar frutos igualmente infinitos e inesperados,
mas infelizmente, como no mercado de ações não é você quem decide o valor
daquilo que possui, e numa virada inesperada do mercado pode ter que deixar seu
carro e voltar a caminhar sobre suas duas pernas.