segunda-feira, 2 de julho de 2007

Benhêe, Temos que Discutir Nossa Relação!


Não sou muito bom em se tratando de relacionamentos amorosos, mas nossa querida Iaiá me desafiou a escrever sobre a discussão do relacionamento de casais. Pra minha sorte esse é um assunto muito discutido e achei um texto que não poderia expressar melhor essa situação. O texto a seguir foi extraído do livro “100 crônicas de Mário Prata”, Cartaz Editorial – São Paulo, 1997, pág. 163:

DISCUTIR: defender ou impugnar (assunto controvertido); questionar.
RELAÇÃO: comparação entre duas quantidades mensuráveis. (Aurélio).

Há alguns anos, eu e minha mulher (hoje ex-) fomos convidados pelo cantor e compositor João Bosco para assistirmos ao show dele no Teatro Municipal de Santo André. Como não sabíamos o caminho, João Bosco, que ia com a Kombi da gravadora, ofereceu-se para uma carona. Pegamos ainda o genial jornalista policial Otávio Ribeiro (Pena Branca) e sua noiva no Hotel Cineasta no centro de São Paulo e lá fomos nós. Pena tinha acabado de escrever um livro chamado Barra Pesada.
Quando chegamos, o teatro estava superlotado, não havendo mais espaço nem no chão. O produtor do João nos arrumou quatro cadeiras e lá ficamos nós num cantinho do palco. No centro, com foco de luz, apenas o João, o banquinho e o violão.
Foi quando tudo se deu. Pena Branca e a noiva começaram uma discussão no palco. Lá no cantinho, para constrangimento meu e da Marta, enquanto João Bosco reclamava de "um torturante bandeide no calcanhar". Da discussão partiram para um bate-boca de baixíssimo nível. Altos brados e baixos calões. Começaram a se xingar. O que aconteceu é que as mais de mil pessoas que lotavam o teatro começaram a desviar os olhos do centro do palco para o canto. Ali, naquele pequeno espaço cênico, estava acontecendo um outro espetáculo. Um casal DISCUTIA A RELAÇÃO, com o João Bosco fazendo um mero e distante fundo musical. Foi um sucesso, para desespero meu e da Marta, meros figurantes sem fala, porém boquiabertos. Não sei se o meu saudoso Pena Branca continuou com a moça depois daquele dia. Sim, porque quando se começa a DISCUTIR A RELAÇÃO é, quase sempre, porque não existe mais relação. Apenas discussão.
DISCUTIR A RELAÇÃO é um ato recente. Antigamente, lá pelos anos 60, não se fazia isso. Quando o namorado ou a namorada chegava para o outro e dizia: "Sabe, eu estive pensando...” Pronto, o ouvinte já sabia que era o fim. Não havia mais o que discutir. Saía cada um para o seu lado dizendo que houve (que saudades) uma "incompatibilidade de gênios". Isso resolvia tudo.
E os nossos pais jamais discutiram a relação. Nem mesmo a relação sexual. Dava-se uma porrada e não se falava mais naquilo. As mulheres (infelizmente) sabiam do seu lugar ao lado do fogão, sem o fogo do amado.
Mas o mundo girou, a lusitana rodou, vieram os psicanalistas e as feministas. Sim, foram eles que instigaram as mulheres a DISCUTIR A RELAÇÃO. Sim, são sempre as mulheres que começam (e acabam) as discussões e as relações. Os terapeutas, porque colocam na cabeça da gente que devemos dizer tudo que pensamos da pessoa amada para ela e não para o melhor amigo. E as feministas, bem, as feministas...
Mas, antes de surgir a expressão DISCUTIR A RELAÇÃO, tivemos outros nomes para a mesma desgastante peleja. "Vamos dar um tempo' não durou muito. Depois surgiu "Nossa relação está desgastada". Por que não "gastada"?
Hoje, modismo ou não, não há casal que não DISCUTA A RELAÇÃO, pelo menos uma vez por semana, igualando ao número de atividades sexuais. DISCUTE-SE A RELAÇÃO nos mais variados lugares. Alguns sombrios, outros perigosos.
O melhor lugar para se discutir a relação é na sala. Está-se próximo do uísque, da televisão que pode ser ligada a qualquer momento e mesmo da porta, para uma saída furtiva e quase sempre covarde. E é ótimo DISCUTIR A RELAÇÃO andando em círculos, com um copo na mão, um ouvido na fera e um olho no futebol. Sim, as mulheres adoram esta atividade aos domingos. Eu tenho um amigo que, quando quer sair sozinho com os amigos, diz: "Vou até lá em casa e dou um jeito de DISCUTIR A RELAÇÃO com a patroa, ela fica irritada e eu tenho um motivo para voltar aqui para o bar'.
DISCUTIR A RELAÇÃO no quarto só tem duas saídas. Tudo terminar numa belíssima e lacrimejante cena de amor (às vezes, até com uns tapinhas carinhosos) ou a ida de um dos meliantes para o outro quarto. No quarto, é impossível se tratar deste assunto impunemente. Principalmente se os dois atletas estiverem deitados. E nus. E se houver alguma faca por perto. Vide Robbit.
No carro, é um perigo. Deveria haver multa para esses casais que colocam em risco não apenas a vida deles, como também dos transeuntes e demais carros. DISCUTIR A RELAÇÃO dentro do carro sempre acaba em trombada na cara. E quem está dirigindo leva sempre a pior. Ou então propor um rodízio. Segunda, não discutem casais com final 1 e 2. Terça, 3 e 4. E assim por diante.
Agora, não há nada mais desagradável do que DISCUTIR A RELAÇÃO por telefone. É um horror. Geralmente é de madrugada. Longos silêncios... "Você está me ouvindo? Você está aí?" A gente não vê os olhos da outra pessoa, o sarcástico sorrisinho, a pequena lágrima rolando. Sem falar na conta do telefone.
E no restaurante, vocês já repararam? Sempre tem alguns casais que chegam calados, comem calados e calados saem. Um não dirige a palavra para o outro. Ledo engano. Eles estão, em silêncio, DISCUTINDO A RELAÇÃO. Acho uma covardia DISCUTIR A RELAÇÃO em silêncio. Eles não falam nada. Ela fica quebrando palitos e ele rasgando o guardanapo de papel. Imundando o restaurante.
Já os mais modernos DISCUTEM A RELAÇÃO via Internet. Ele digita um disparate para ela na Vila Madalena, o texto vai para um satélite, dali vai para Columbus (Ohio, USA), volta ao satélite, baixa na central do Rio de Janeiro e, finalmente, entra no computador dela em Pinheiros, a uns 500 metros de distância. Depois é a vez dela fazer o mesmo. Coitado do satélite que tem que decifrar aqueles palavrões todos. Em português, é claro!
Mas o pior não é DISCUTIR A RELAÇÃO. O pior é pagar fortunas a um profissional, sentar-se numa poltrona ou divã e ficar ali, durante 50 minutos, por intermináveis semanas, meses a fio, anos seguidos, repetindo tintim por tintim como foi a nossa última conversa com o ser amado, fazendo um esforço danado para lembrar fala por fala, todos os diálogos. E o terapeuta lá, com aquele olho de peixe morto, caído, quase bocejando, ouvindo, pela oitava vez, naquela mesma tarde, a mesma nauseante história de amor.
Sim, porque com ele a gente não DISCUTE A RELAÇÃO. Discutimos, no máximo, o preço. Da nossa dor.

18 comentários:

  1. esse é o nível em que eu desejo chegar para meus textos/contos... muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuito bom!

    abraços

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  2. Ah, como é bom estar solteira!!!
    Eu já fui muito de discutir relação, hoje sou à moda antiga "incompatibilidade de gênios" nem espero terminar a discussão!
    Muito bem,querido!

    Mandou bem no desafio!
    bjao

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  3. discutir a relação em pleno show... hauahuahahaahua

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  4. discutir relação.. esse é o ponto bom de estar solteiro... não preciso fazer isso.. hehehe

    mtoooo bom!

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  5. Não sou boa para discutir relações...por isso que ainda não engatei nenhuma...

    consegui decifrar o código?
    recebeu alguma mensagem?

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  6. Anônimo1:12 PM

    Nossa.... muito interessante esse texto sobre discussão entre casais... já passei por tantos momentos semelhantes a esse? principalmente no quarto, na sala, no tel... e o mai interessante em um ônibus durante uma viagem...srsrs.... quando a gente lembra desses momentos a gente dá muita risada depois, pois no momento não parece nada engraçado, mas depois a gente pára pra pensar, ahahaha... só pra rir.. bjos!!!!

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  7. velho, eu mudei uma regra do desafio... vai lá dá uma olhada depois...

    abraços

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  8. É rapaz, olha a que ponto chega um casal neurotico
    Eu sigo a filosofia do bom e velho Chris Rock "Você nunca irá ganhar uma discussão com uma mulher, porque os homens tem a necessidade de fazer nexo em seus argumentos!"

    Cara, o Wagner mudou o desafio, então, você tem que me indicar o CD!!

    POR FAVOR, SEM FUNK

    asuehashesa

    Abraços!!!
    Vou te linkar!

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  9. Oieee... EU já respondi ao desafio do Wagner... vai lá no blog para ver que o CD que eu escolhi :) bjs

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  10. Ah! Então.. tem um presente pra vc lá no meu blog... =P

    abraço!

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  11. Está ok... eu mando em alguns minutos.

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  12. master, texto mto bem escolhido!
    pior q discussão de relação, eh naum ter relaçao!
    e too tentnado decobrir o siginificado do apelido do seu amigo,
    seria algo relacionado a boca?

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  13. Cara, ta feito, espero que goste!!

    Abraço

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  14. Discutir relação.. bom n é.. mas é as vezes tão necessária..

    E acompanha minha saga.. logo, logo saberá que acontecerá...





    Em tempo, estou divulgando meu blog... Estou numa seqüência de 12 dias e 12 textos até o dia 12/07.. passa por lá.. o AveSSo agradece.


    [ http://oavessodavida.blogspot.com/ ]

    O AveSSo dA ViDa - um blog onde os relatos são fictícios e, por vezes, bem reais...

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  15. Quanto tempo hein!
    E essa crônica é realmente genial. Quando vi o tamanho, me deu uma preguiiiça de ler... Mas quando terminei, percebi que valeu à pena. Grande Mário Prata. Um dia ainda faço um igual. Rsrsrs...
    E eu caracterizaria "discutir a relação" como saudável, se não tivesse ficado tããão popular assim. Aquele ditado, que nunca perdeu seu lugar ao Sol, ainda vale: "tudo em excesso faz mal".
    Té +!

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  16. Anônimo11:26 PM

    discutir a relação em show, cinema, bar, shopping, são lugares horríveis ¬¬'.

    eu nunca rive a oportunidade, mas quem sabe um dia né?! xPPPPP
    beijo ;**

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  17. Aplausos de pé!!!
    Muito bom!!!

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  18. Anônimo6:30 AM

    Nice post and this mail helped me alot in my college assignement. Say thank you you for your information.

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